Fogo
És inesperado
Mal amado... de tão inusitado
Nesse teu chegar...
Nesse teu avançar...
Onde sem nada dizer
Impera aquele querer
De quem sem se anunciar
Veio para usurpar
E tudo mudar
Sem sequer hesitar
És traiçoeiro
Matreiro
Alguém em quem não confiar
Ante a chegada sem avisar
Desse teu abraço caloroso
Desse teu crepitar jocoso
Para tudo queimar
E tanto arrasar
Num gesto maldoso
Desse abraço impiedoso
És fogo, fajuto...
De querer impoluto
Que na combustão
Perdeu seu coração
E que tanto há-de queimar
Tanto há-de arrasar
Só para mostrar
Que não se deixa dominar
Quando quer passar
És cruel...
Amargo como fel
Ser sem perdão
Capaz de roubar o pão
Deixando cinzas plantadas
Nas terras por ti calcinadas
Na vida por ti degredada
E deveras condenada
A um luto forçado
Por um louco obstinado