"É quase doentio o positivismo infinito nas redes sociais. (...) Se virmos só feeds bonitos é mais fácil pensarmos que nós é que estamos errados e que só nós é que nos sentimos sozinhos"
Mariana Cabral
Quando espreitamos a vida pelas redes sociais tudo parece bem. Tudo está bem. Todos são gratos! Todos são felizes! Sim, porque a gratidão e a felicidade são hoje conceitos na moda. Uma espécie de spots, que todos almejam, mas que para alguns [muitos] só é possível nessa tal vida "paralela" nas redes sociais.
E não, não estou a desmerecer a importância destes conceitos, nem acho que devemos ou podemos passar ao seu lado na vida. Mas dependerá talvez do que é a tal "da felicidade" para cada um...
Ainda assim, quantas vezes sentem que a vida vos falha ou trai? Que se esforçam, dão tudo, tudo o que têm e não têm, mas... a vida, o universo ou sei lá o quê, está distraído... indisponível para corresponder. Quantas? Quantas vezes? Quantas vezes abdicam de tanto para tudo investir... investir num projeto... no trabalho... no amor... na felicidade. E depois... depois não há retorno.
Um projeto, o tal trabalho ou aquele amor, que não deixou fotos bonitas para partilhar. Não deixou fotos que sequer nós queiramos ver, quanto mais partilhar... Quantas vezes?! E não! Não vamos cair nas frases feitas. Nas palavras da moda como gratidão ou felicidade, ditas em vão. Sim, porque claro que devemos estar gratos por tudo o que de bom temos na vida (e também, por tudo de mau). Sim, porque devemos valorizar o que temos e não o contrário. Sim, porque se correu mal foi muito bom para aprender, para crescer, etc, etc... E assim ficamos, como se estivéssemos numa daquelas chamadas intermináveis para um call center. Só que aí ainda nos dão música. Na vida nem isso...
Não acham que a vida podia colaborar um bocadinho?! Ajudar um bocadinho?!
Chamem-lhe recompensa! É que aí sim, ficariam verdadeiramente gratos e felizes se a vida bafejasse com qualquer coisa... chamemos-lhe sorte... golpe de sorte... algo em que o universo conspirasse a favor, quando há esforço?!
Estarão alguns condenados a não ter nada para estar gratos e felizes nas redes sociais? Será castigo porque também não gostam de partilhar nas redes sociais? Será falta de sorte? Condenação ao fracasso?! O Universo distraído?!...
Persistirá a dúvida... com a certeza que pode ser tramado alcançar essa tal de felicidade e embarcar no tal do positivismo desenfreado patente nas redes sociais, que faz de uns, verdadeiros heróis e de outros, uns zeros à esquerda.