Veja aqui!
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Veja aqui!
Hoje partilho mais uma sugestão de leitura.
Título: "Pedaços de Vida"
Género: Memórias e Testemunho
Autor: Judite Sousa
Editora: Arena
"Neste livro, há muita informação sobre a minha história de vida. Alguns irão dizer que se trata de um livro de memórias. Poderão entendê-lo como tal. Para mim, é somente um livro sobre pedaços da minha vida pessoal e profissional e... sobre a Vida, tal como eu a entendo, tal como eu a vivi até hoje.
É igualmente um livro que reflecte o que penso sobre as várias dimensões da nossa existência em sociedade, nomeadamente à luz das novas realidades comunicacionais e do impacto das redes sociais nas nossas vidas.
Nas páginas que se seguem, deixo também o meu pensamento sobre a ideia da felicidade, tal como ela é percepcionada nos tempos actuais, sobre a solidão como uma das marcas porventura, mais dramáticas da contemporaneidade, sob a forma como lido com os silêncios,..."
Judite Sousa
Foram estes parágrafos da introdução do livro, escritos pela própria autora, que me prenderam a atenção e me despertaram para a leitura do livro.
Não desiludiu em momento algum. Trata-se de um livro que denota bem o carácter e o espírito jornalístico da autora, a sua capacidade de investigação e inteligência - sobejamente conhecidas e reconhecidas através do seu percurso profissional, mas também uma dimensão mais pessoal.
O conjunto de textos que compõem o livro, são nas palavras da autora uma espécie de textos de reflexão ou crónicas onde aborda temas tão pertinentes como a "ausência", o "luto", os "livros", a "solidão", a "felicidade", a "vida", a "auto-estima", entre outros que dominam a sociedade contemporânea.
Por esse motivo, deixo-vos aqui alguns excertos que me são particularmente caros por constituírem sérios motivos de reflexão e que desejo poderem ser o mote para despertar o vosso interesse para a leitura do livro.
"A ausência está sempre presente no meu presente."
"Ficamos sem alguém que amamos e o mundo continua como se nada fosse. Os outros continuam com os seus, mas nós, que perdemos, estamos amputados."
"Somos um produto combinado do nosso ADN e da nossa experiência de vida. Quem somos? Como é que gerimos as nossas emoções? Como agimos em sociedade? É tudo isto que resulta dessa incrível mistura da nossa genética e do ambiente em que nascemos e crescemos."
"Byung-Chul Han defende a ideia da "Sociedade do Cansaço". Uma expressão que Tolentino Mendonça interpreta: "As nossas sociedades ocidentais estão a viver uma silenciosa mudança de paradigma: o excesso de emoções, de informações, de expectativas e de frustrações. E isso está a colocar e a empurrar a pessoa humana para um estado de fadiga."
"Não sabemos definir o que é a felicidade, mas todos, cada qual à sua maneira, tenta ser feliz, o que quer que a palavra signifique. (...) Há pessoas que dizem ser felizes com pouco e, para mim, essas talvez sejam as mais felizes de todas. Sem grandes expectativas, o estado de felicidade é, porventura, o mais tangível."
"A vida é uma aprendizagem. Uma aprendizagem em contínuo. Aprendemos com o que nos vai acontecendo ao longo do nosso percurso. Mas, para que essa aprendizagem aconteça, é necessário que exista humildade para saber ler os sinais ou as consequências dos nossos actos."
"As redes reforçam uma das características da contemporaneidade: o hedonismo. (...) Levada ao extremo, a sociedade hedonista ou sociedade do prazer pode ser autodestrutiva, porque entre aquilo que desejamos e a realidade, o choque pode ser brutal. Vivemos entre a realidade e a ficção, (...)"
"A nova comunicação evita o contacto directo. Os encontros entre amigos, as reuniões de trabalho, a partilha da informação, as lógicas da sedução, o namoro, ... são tudo dimensões da vida que foram reconfiguradas neste século digital."
"Num tempo de extremos, em que de um lado temos os muito fortes e, do outro, existem os muito fracos, a comunicação digital potencia o desprezo dos frágeis."
"A apologia do sucesso é outra das marcas da contemporaneidade. É como um valor supremo. Estamos como que obrigados a ser bem-sucedidos. Vivemos dominados pela palavra perfeccionismo."
"No século XXI, há uma exigência: temos de ser especiais."
"A vida são camadas de memórias que se vão sobrepondo umas às outras e que nos vão deixando ensinamentos."
"Estudos recentes publicados na revista Lancet revelam que a poluição ambiental está a provocar mais mortes do que os óbitos causados pela Covid 19 (...). O mundo tornou-se um espaço perigoso."
"Uma das consequências mais dramáticas da pandemia talvez tenha sido o agravamento da solidão que é, para mim, uma das marcas mais terríveis das sociedades ocidentais."
"Na comunicação digital, as palavras perderam a importância de outros tempos. (...) Nos tempos actuais, não há espaço para cuidar da palavra, para a mimar. E as palavras pedem tempo. Tempo para ler, Para escrever. Para pensar."
Siga o conselho aqui!
Rio Sorraia, Benavente, abril 2024
Um rio não pára de correr. Tal como a vida, também ele flui… segue o seu caminho na natureza e ainda que diante de um qualquer obstáculo, há-de sempre encontrar caminho para voltar ao seu lugar.
Ora em tempos de chuva, pleno de abundância e com a força da corrente, ora em tempos de seca, tantas vezes marcados pela escassez… de tanto… ou mesmo de tudo…nunca deixa de ser rio.
Às vezes, a maré vem de feição e é então que galga as margens, extravasa o seu leito, anula fronteiras, ignora barreiras e num gesto de afirmação de plena liberdade, abarca tudo em seu redor como se dali, fosse único Senhor... Senhor de si, Senhor de tudo, alastra com ímpeto e tudo toma com força bastante para tudo vencer e se preciso for, tudo arrastar.
Mas nem sempre é assim… às vezes nem uma gota consigo, é capaz de levar. Exaurido, deixa-se secar… Mas sempre há-de ser rio... rio que corre para o mar.
Rio Sorraia, Benavente, abril 2024