Manhã de 01 de dezembro de 2023.
O som do despertador rompeu o silêncio do quarto de Joana, que dormia serenamente naquela manhã fria de dezembro. Mas Joana não ficou nada aborrecida por ter de acordar. Para ela, dezembro era o melhor mês do ano e logo no primeiro dia, começava toda aquela azáfama da época que lhe enchia e preenchia o coração.
Joana adorava o Natal e vivia a época sempre com grande entusiasmo e alegria. Desdobrava-se em atividades, desde a decoração da sua própria casa até à ajuda na decoração de Natal na empresa onde trabalhava e também na casa daqueles amigos que precisassem de uma ajuda para fazer o Natal entrar nas suas casas. Depois tinha ainda de ajudar a engalanar o Natal de algumas instituições de solidariedade onde era voluntária.
Mas não ficava por aqui. Depois das decorações, vinham os presentes que comprava com muito carinho para os seus amigos mais chegados. Não podia comprar presentes para todos os que amava, já que o seu coração era muito maior do que a sua bolsa, mas a todos mimava com gestos de tamanha generosidade. Ainda nesta rota para a compra dos presentes, também se oferecia para ajudar os amigos que tinham filhos. Ficava com as crianças sob o pretexto de irem ver o Natal, enquanto os pais ficavam mais à vontade para irem às compras. E o que ela se divertia com os miúdos!
Bom, mas à medida que as semanas passavam vinham outros afazeres. Com o aproximar da grande noite, vinha também a necessidade de planear a ceia de Natal. Era tempo de mais compras, mas desta vez para a preparação das iguarias estrela da mesa de Natal.
Mais uma vez, Joana também lá estava para ajudar. Compras e mais compras para aquela amiga que está grávida e que precisa de uma ajudinha na ida ao supermercado, para aqueles amigos cuja criança adoeceu e não lhes convém sair de casa, para aquele casal de vizinhos mais velhotes a quem já pesa a idade, quanto mais os sacos das compras. Mas não havia problema. Todos eles sabiam ter uma Joana na sua vida, sempre pronta para ajudar. Sempre disponível para eles.
Contam com ela para tudo. Pois... também contam com ela para organizar e dinamizar a festa de Natal na empresa, os almoços e jantares de Natal entre amigos e já agora a dinâmica dos presentes do amigo secreto. Vai até ajudar na confecção de alguns almoços e jantares das tais instituições de solidariedade social onde costuma colaborar.
Todos contam com ela. Todos sabem que podem contar com ela e dizem-lhe isso mesmo. Joana ri. Ri com o riso genuíno de quem tudo faz de coração. Ri com o riso do genuíno interesse pelo desinteresse pessoal. Ri com o genuíno interesse de poder ajudar os outros, de dar de si aos outros. E os outros, são todos os que dela precisarem porque todos, mas mesmo todos, cabem no seu coração.
E assim vai correndo o mês de dezembro. Sim, porque entre tantos afazeres, o mês passa mesmo a correr. E nesta corrida contra o tempo e contra as inúmeras tarefas que se avolumam e se apertam nas linhas da sua agenda chega-se velozmente ao dia 24.
Mas nesse dia, também não há mãos a medir. Liga-lhe a amiga que se esqueceu de comprar um ultimo presente, depois outra a quem falta aquele ingrediente especial para fazer uma das sobremesas que tinha planeado, a outra que precisa que lhe vão buscar os tios ao comboio e mais outra, cuja criança acordou com febre e precisa de um xarope da farmácia e ainda os seus vizinhos mais velhotes, que precisam de uma ajudinha para que tudo esteja preparado atempadamente para receberem os filhos e netos que hão-de chegar cansados da viagem, mas ávidos de apetite daquelas iguarias especiais cujo sabor não existe em lado nenhum a não ser no "colo" da casa dos pais e dos avós.
24 de dezembro de 2023. 18:30h.
Joana entra em casa. Pousa as chaves no móvel da entrada. Descalça-se e procura algo confortável para calçar. Nada melhor que as suas pantufas de Natal. Senta-se no sofá. Sorri. Está feliz. Viveu mais uma maravilhosa época de Natal.
Conseguiu ajudar todos aqueles que lhe pediram. Crê mesmo que a esta hora, já todos têm perto de si, as suas famílias para celebrarem mais um Natal. Consegue até imaginar a magia das crianças a correrem pelas casas e a felicidade dos seus vizinhos mais velhotes, que por esta hora já têm a casa a abarrotar por entre filhos e netos, vindos de longe, vindos de onde ganham o pão, alguns além fronteira.
Divertiu-se. A missão estava cumprida.
Liga a televisão e dirige-se para a cozinha. Lá, prepara um chá de menta - o seu preferido, e uma torrada. Volta para a sala. Espreita o silêncio das ruas e a luz que irradia das janelas. Sorri e aconchega-se no sofá. Decide ver um filme enquanto come a sua torrada e bebe o seu chá reconfortante. "Sozinho em casa". Parece-lhe bem. Afinal é o filme do Natal.
Por ali fica a rir do Natal atribulado do pequeno Kevin McCallister e a sorrir pelo seu Natal, até que adormece para sonhar, quiçá com o próximo Natal...
Resposta ao Desafio "Contos de Natal - 2023" proposto pela Isabel do blog "Pessoas e Coisas da Vida" a quem agradeço!