O rio Sorraia nasce na freguesia do Couço em resultado da confluência das ribeiras de Sor e de Raia e desagua no rio Tejo. É o afluente português do rio Tejo com maior bacia hidrográfica (7730km2) e recebe ao longo do seu curso várias ribeiras e o rio Almansor.
Atravessa os concelhos de Coruche e Benavente no distrito de Santarém e ao longo de todo o seu percurso desenvolve-se uma importante área agrícola de baixa aluvionar, sendo a agricultura intensiva de regadio o padrão dominante da ocupação do solo. De entre as culturas mais importantes para a agricultura portuguesa e mais marcantes para a gastronomia e indústria locais, destacam-se o arroz e o milho.
A importância do Sorraia remonta aos Romanos e mouros que aqui se fixaram, usufruindo dele para a prática da agricultura e como meio de comunicação, para exportar os produtos cultivados nas terras férteis do Vale do Sorraia, tendo desenvolvido engenhosos sistemas de irrigação que perduram aos nossos dias.
Abundam no rio Sorraia várias espécies, nomeadamente bogas, carpas, barbos e bordalos, tendo-se desenvolvido em toda a zona a pesca artesanal de rio. Esta riqueza piscícola tornou-o também num local privilegiado para a prática da pesca desportiva, sendo considerado um dos melhores pesqueiros nacionais e mundiais.
Pois bem, mas neste momento o rio Sorraia e todo este seu ecossistema está em sofrimento!
O motivo desta agonia é um denso e extenso tapete de jacintos de água, que apesar da sua beleza, constitui uma tremenda ameaça para o Sorraia. O manto de jacintos tornou a navegação impraticável, as redes de pesca ficam presas, a captação de água para a agricultura está impossibilitada e todo o ecossistema está ameaçado.
Sem subestimar a capacidade de reprodução desta planta invasora, já que de acordo com o Plano de Remoção do jacinto de água do rio Sorraia, um jacinto de água consegue, no prazo de um mês, originar 50 a 70 novos jacintos, terá também contribuído para esta situação, a construção de um açude no passado mês de julho, que fundamentada pela necessidade de criar uma represa com água doce porque a produção agrícola, em particular os arrozais, estava em risco com o elevado nível de salinidade, veio a constituir-se como um bloqueio do rio.
O curso do rio Sorraia foi assim interrompido por uma espécie de açude a cerca de um quilómetro do Porto Alto, onde a água doce vinda de montante passou a ficar retida para ser utilizada na rega de mais de 10 mil hectares de culturas.
Ainda que se compreendam os motivos de tal construção atentas as necessidades da produção agrícola, a verdade é que esta intervenção provocou alterações ao caudal hidrológico do rio, fazendo com que os jacintos que em condições normais, iriam para o mar arrastados com as marés acabando por morrer, começassem a ficar acumulados ao longo de 80 dos 155 quilómetros do rio Sorraia.
A estas condições do rio, acresceram as condições ótimas de luminosidade e temperatura para o desenvolvimento desta espécie invasora, bem como os teores elevados de fósforo e azoto na água com origem nos terrenos agrícolas das margens do rio e provenientes dos fitofármacos utilizados. Entretanto, o próprio tapete verde de jacintos fez diminuir os níveis de oxigénio e a qualidade da água do rio, criando impactos ambientais e económicos.
No passado dia 22 de Agosto e sem qualquer tipo de controlo, o açude viria a ser desmantelado causando o arrastamento de uma vasta massa de jacintos. O leito do Sorraia ficou intransitável e com a maré cheia os efeitos desta situação estenderam-se também ao rio Almansor, que até então não tinha vestígios de jacintos de água.
Ontem, sob coordenação da Agência Portuguesa do Ambiente, começou a operação de remoção dos jacintos de água, mas esta operação demorará certamente várias semanas já que se estima que neste momento existam mais de um milhão de metros cúbicos de jacintos a cobrir o rio. A operação conta com o “Pato Bravo”, nome da ceifeira aquática cedida pela Câmara de Águeda, que vai ajudar os municípios de Coruche e de Benavente nesta operação de remoção dos jacintos de água no rio Sorraia.
De acordo com o Plano de Remoção, os meios mecânicos vão atuar em nove troços ao longo de 80 quilómetros de linhas de água afetados e prevê remover a planta infestante para as margens do rio para secagem, mas deixa em aberto o destino final a dar-lhe já que esta planta exótica originária da América do Sul pode ser utilizada na alimentação animal e até humana.
O plano indica ainda, que até meados de 2020 será feito “um diagnóstico da situação, no sentido de identificar medidas que limitem de forma significativa o desenvolvimento do jacinto de água, entre as quais a limpeza do leito e margens e a reabilitação das galerias ribeirinhas, bem como controlo dos nutrientes afluentes à linha de água”. Defende ainda que as Câmaras de Benavente e Coruche e a Associação de Regantes e Beneficiários do Vale do Sorraia partilhem a aquisição de uma ceifeira aquática presumindo-se que os episódios de proliferação de jacintos de água se irão repetir no Sorraia nos próximos anos. Está ainda projetada uma “análise das potencialidades de utilização do material vegetal depois de seco na agricultura, pecuária ou compostagem”.
A inércia das Entidades nacionais e locais responsáveis só foi quebrada pela forte ação de CIDADANIA do Movimento Cívico “Juntos pelo Sorraia” que ao trazer a questão a público conseguiu despertar consciências… e sobretudo ações!
Informação adicional:
Jacintos-de-água ameaçam o Sorraia. “Daqui a pouco não temos rio, acabou”
Um grupo de cidadãos juntou-se para chamar a atenção para o estado do rio Sorraia, "infestado" por jacintos-de-água. - 2019/08/27
https://www.publico.pt/2019/08/26/video/daqui-nao-rio-acabou-20190826-132938
Movimento cívico "Juntos pelo Sorraia"
https://juntospelosorraia.pt/
Praga de Jacintos de Água no rio Sorraia - 2019/08/27
https://sicnoticias.pt/pais/2019-08-27-Praga-de-Jacintos-de-Agua-no-rio-Sorraia
Fontes de informação: CM de Coruche; CM de Benavente; CM de VF Xira; CCDRLVT - Comissão de Coordenação da Região de Lisboa e Vale do Tejo; Movimento cívico “Juntos pelo Sorraia”; Jornal Público; SIC; Ribatejo News.